Antes de embarcarmos para o Deserto do Atacama, no Chile, já sabíamos que o principal passeio da viagem seria o Salar de Uyuni, na Bolívia. Escutamos de tudo sobre esse tour: é perigoso, roots demais, você come muito mal, os motoristas vivem bêbados… Esqueça tudo isso! O que vivemos por lá foi totalmente o contrário e, sem dúvida, uma das melhores viagens que já fizemos.

Acho que tivemos um pouco de sorte, pois são muitos os relatos de gente que passou por essas situações durante a viagem. Ouvimos até uma história de um turista que precisou dirigir o carro porque o motorista estava bêbado. Para evitar essas furadas, enchemos esse post com dicas.

| Se prepare!

Em primeiro lugar, é preciso decidir com qual agência você fará o passeio. Não é aconselhável alugar um carro independente e desbravar o deserto sem um guia. As estradas da Bolívia são muito diferentes das do Chile. Totalmente esburacadas, sem mão certa e muitos loucos dirigindo. Além disso, a maioria dos trechos não tem sinalização e você andará no meio do deserto, sem nenhuma referência. Ou seja, para não ficar perdido no meio do nada, escolha uma agência.

Fizemos muita pesquisa. Muita mesmo. Quando chegamos em San Pedro de Atacama fomos em diversas agências, mas não nos sentimos seguros em fechar o passeio ainda. Procuramos recomendações no TripAdvisor, o que só nos deixou mais confusos. Todas as agências receberam bons e péssimos comentários.

Depois de dias pensando, analisando e quebrando a cabeça, resolvemos fechar com a Cordillera Traveller, localizada na Calle Tocopilla, 429 (San Pedro de Atacama). Apesar de ser uma das mais caras, conversamos com o dono (Flávio) e gostamos da sinceridade sobre a qualidade dos carros e dos alojamentos. Vá preparado: não há luxo nessa viagem, nem nada perto disso. Apesar do perrengue anunciado, preferimos a sinceridade.

Depois de decidir a agência, é hora de escolher o roteiro. Existem algumas opções de tour. Como teríamos que retornar à San Pedro, escolhemos o passeio de 4 dias e 3 noites. Porém, quem quiser continuar a viagem a partir da Bolívia, existe a possibilidade de ficar na cidade de Uyuni, onde o carro faz a última parada.

Depois de tudo fechado, começamos os preparativos. O tour tem alimentação completa inclusa (café da manhã, almoço e jantar), mas é recomendável levar algumas bolachas e salgadinhos para comer durante o dia. O mais importante é, sem dúvidas, comprar bastante água (não beba água na Bolívia) e papel higiênico.

Antes de tudo, vale dizer que o ritmo da viagem é praticamente o mesmo durante todo o trajeto: algumas horas de carro, uma breve parada para fotos, mais carro, mais uma parada…

| 1º dia: tudo pronto, hora de embarcar

O primeiro dia começou cedo. Às 8h da manhã, a van da Cordillera passou no nosso hotel para nos levar até a imigração do Chile. Nada de complicado, mas mesmo assim ficamos por lá quase 1 hora até sermos liberados. De volta ao veículo, fomos até a fronteira com a Bolívia e paramos novamente para fazer o processo de imigração e aduana. Antes da burocracia, tomamos um café da manhã simples e gostoso: pão, frios, geleia, chá, leite com chocolate e café.

Depois do carimbo no passaporte, foi a vez de colocar as bagagens no nosso veículo. É nesse momento que trocamos a van por um carro 4×4 com 6 passageiros e o motorista, boliviano. O nosso “chofer”, como eles chamam por lá, foi o simpático Elvis Félix. Com apenas 22 anos, ele foi excelente. Sempre cuidadoso, atencioso, conhecia tudo da região e muito paciente. Ficamos completamente apaixonados por ele!

Laguna Blanca foi a nossa primeira parada (Foto: Flymaniacs)
Laguna Blanca foi a nossa primeira parada (Foto: Flymaniacs)

A primeira vez que descemos do carro foi para curtir a vista da Laguna Blanca. A cor (branca, óbvio!) é devido ao excesso de magnésio e sulfato, o que também a torna imprópria para banho. Aliás, quase todas as lagoas desse tour são coloridas por motivos parecidos.

A Laguna Verde fica com a cor mais intensa conforme o vento (Foto: Flymaniacs)
A Laguna Verde fica com a cor mais intensa conforme o vento (Foto: Flymaniacs)

Dez minutos dali, está a Laguna Verde. A mais bonita e impressionante de todas. Quando venta, a cor verde se intensifica. Ela fica aos pés do vulcão Licancabur, no meio da Cordilheira dos Andes, responsável por dividir o Chile e a Bolívia.

Águas termais no meio do deserto: uma boa oportunidade para relaxar (Foto: Flymaniacs)
Águas termais no meio do deserto: uma boa oportunidade para relaxar (Foto: Flymaniacs)

Partimos para o Deserto de Dali, que tem esse nome por conta da semelhança da paisagem com os quadros do pintor espanhol, e depois para as águas termais. Paga-se $6 bolivares para usar o banheiro (muito sujo, mas necessário) e entrar na piscina natural com temperatura de até 38ºC.

O passeio é cheio de paradas, por isso o tempo é relativamente curto entre um lugar e outro. Dirigimos mais um pouco até os Geysers de Sol de Manãna. Nem era tão cedo, mas conseguimos ver mais fumaça do que nos Geysers del Tatio, no Chile. A temperatura do vapor é de 90º C, ou seja, fique bem longe e não arrisque nenhuma brincadeira por perto. Se bem que o cheiro de enxofre já é o suficiente para manter você afastado.

Laguna Colorada e os seus mais de 30 mil flamingos (Foto: Flymaniacs)
Laguna Colorada e os seus mais de 30 mil flamingos (Foto: Flymaniacs)

Para terminar o dia, paramos na Laguna Colorada. Com uma tonalidade avermelhada devido às algas e plânctons, a região é cheia de flamingos, mais de 30 mil, que normalmente migram de lá durante o mês de maio. Durante a noite, ficamos em um alojamento – sem banho e com poucos banheiros –, e dividimos o quarto com as outras cinco pessoas que viajavam com a gente no carro. 

| 2º dia: muito tempo no carro

Vá se acostumando, todo dia é dia de levantar cedo. Às 8h da manhã todos têm que estar no carro. As agências viajam em comboios de 4 ou 5 carros com sete pessoas em cada veículo e, prepare-se, no segundo dia você passará mais tempo no carro do que fora dele.

O Mirador de 7 Cores parece uma pintura entre as montanhas (Foto: Flymaniacs)
O Mirador de 7 Cores parece uma pintura entre as montanhas (Foto: Flymaniacs)

A viagem ocorre pelo Deserto de Sioli, que tem um conjunto de formações rochosas e cheio de “árvores de pedras”, como são conhecidas algumas rochas. Por ali mesmo, paramos no Mirador de Águas Calientes e no Mirador de 7 Cores.

É lá que conhecemos outras três lagunas altiplânicas: Honda (no meio de montanhas e sem profundidade), Edionda (com muito enxofre) e Cañapa (alimentada por uma pequena vertente de água de um cânion, é cheia de fauna e flora andina).

A Laguna Edionda é uma das lagoas altiplânicas da Bolívia (Foto: Flymaniacs)
A Laguna Edionda é uma das lagoas altiplânicas da Bolívia (Foto: Flymaniacs)

A cada 20 minutos de carro, ganhávamos uma pausa para apreciar um pouco de água bem no meio do deserto. Nossa parada mais longa foi na Laguna Edionda, onde almoçamos na companhia de simpáticos flamingos. O lugar tem um cheiro forte de enxofre, mas você até esquece ao se deparar com tanta beleza.

Passamos a noite no povoado de San Juan, onde é possível comprar coisas no mercadinho. Os mais animados compraram cerveja boliviana. Essa é a noite mais confortável, no Hotel de Sal. Com banho quente, quarto para duas ou três pessoas e direito a vinho – bom! – no jantar.

| 3º dia: o tão esperado Salar

O terceiro dia é dedicado exclusivamente ao Salar de Uyuni. Saímos antes das 5h da manhã, mas ninguém se importou de tanta ansiedade. Nosso primeiro destino, dentro do salar, é a Isla Pescado, uma pequena montanha no meio do deserto de sal e cheia de cactos. Quem tiver interesse, pode entrar por $30 bolivares.

São mais de 12.000 km² de chão branco e céu azul pelo Salar de Uyuni (Foto: Flymaniacs)
São mais de 12.000 km² de chão branco e céu azul pelo Salar de Uyuni (Foto: Flymaniacs)

De lá, dirigimos mais alguns quilômetros por um dos maiores salares do mundo. O deserto salgado impressiona pelo tamanho: são mais de 12.000 km² de chão branco e céu azul. Dizem que 60% do sal do mundo estão nessa região. Será?

Andamos quase 50 km em cima do sal até pararmos (no meio do nada!) para o almoço. É nessa hora que todos aproveitam para testar a criatividade nas fotos com a perspectiva distorcida.

Bandeiras no Hotel Playa Blanca (Foto: Flymaniacs)
Bandeiras no Hotel Playa Blanca (Foto: Flymaniacs)

Antes de sair do salar, fomos ao Hotel Playa Blanca passamos em uma feira artesanal com objetos típicos andinos e preços ótimos.  Finalizamos o dia já na cidade de Uyuni, em um Cemitério de Trens, que era usado para transportar minerais e hoje está completamente abandonado.

Uma boa parte das pessoas que nos acompanharam na viagem ficou por ali mesmo, em Uyuni. Não era o nosso caso, Para San Pedro de Atacama, voltamos para o carro e seguimos para o povoado Villa Mar, onde passamos a noite. A pousada é super simples. Para tomar banho quente paga-se $10 bolivares e os quartos são duplos. Jantamos e dormimos cedo, exaustos.

| 4º dia: hora de partir

Depois de três dias incríveis, acordamos às 5h da manhã e encaramos uma viagem de horas até a fronteira com o Chile. A imigração da Bolívia é no meio do nada e com um escritório super simples. A viagem começa e termina com boas emoções. Chegamos em San Pedro de Atacama por volta das 13h e continuamos aproveitando os nossos últimos dias por lá.

Confira mais fotos do tour de 4 dias pelo Salar de Uyuni: